Quando eu era repórter esportivo, tive um chefe que sempre repetia a frase que abre o segundo parágrafo desta news. Lembrei dela recentemente, devido ao momento que estou vivendo neste início de segundo semestre de 2025.
“Quem pede tem preferência, quem se desloca recebe” é atribuída ao técnico Gentil Cardoso e significa que um jogador que pede a bola tem preferência para recebê-la, e aquele que se desloca para criar um espaço para a bola tem preferência para receber um passe. No contexto da redação cheia de jornalistas esportivos sedentos por grandes eventos, ela se encaixava em relação à escala de trabalho — quem seria escalado para cobrir grandes jogos, grandes pautas, grandes viagens. Repetida ao extremo, em um tempo em que o assédio moral era praxe, a frase virou piada entre nós — operários da notícia — que vivíamos a antítese entre o glamour na tela da TV e a rotina exaustiva com pagamento próximo ao piso salarial.
Hoje, 8 anos depois, percebo como essa frase tem camadas que extrapolam o futebol e o jornalismo. Ela fala sobre iniciativa e movimento, duas forças que continuam a reger o trabalho e a vida. Pedir é se expor, levantar a mão, assumir o risco de ser visto. Deslocar-se é ainda mais incômodo: mudar de posição, sair da zona de conforto, abrir espaço para algo que ainda não existe. Em ambos os casos, há um ato de vulnerabilidade — e é justamente ele que cria possibilidade de futuro.
No mundo hiper acelerado em que vivemos, pedir virou quase um pecado. Espera-se que todos saibam, que ninguém precise perguntar, que a insegurança seja mascarada pelo excesso de confiança. O deslocamento também ficou mal visto: quem se movimenta demais corre o risco de parecer perdido. Mas será que não estamos perdidos justamente quando paramos de pedir e de nos mover?
Este segundo semestre começou exigindo de mim escolhas duras e movimentos arriscados. A boa notícia é que, em meio a tanta incerteza, comecei a colher os resultados de movimentações que fiz. Conheci lugares, empresas, pessoas e negócios novos. A newsletter está gerando um feedback importante, o podcast conquistou um público pequeno, porém cativo, e a sensação é de que a engrenagem começou a rodar.
Nas últimas duas semanas, fiz palestras no Rio Grande do Sul para públicos da área da Educação — a primeira em Novo Hamburgo e a segunda em Marau. Costumo dizer que sou fã de professoras e professores, e esses eventos sempre me aquecem o coração. Falar para quem educa na prática — quem encara crianças e adolescentes com a maior missão influenciadora de todas — é inspirador.
Essa movimentação plantou sementes que certamente vão gerar frutos muito interessantes. O jogo segue, e eu sigo jogando. Às vezes no recheio, às vezes na capa.
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NO AR: INTELIGÊNCIA ORGÂNICA
Reflexões sobre tecnologia, pensamento crítico e o que nos torna humanos.
Essa semana, dois episódios fortes e necessários:
EP.36 – Crise Climática: O Futuro da Economia e da Nossa Sobrevivência
A crise climática não é mais uma previsão — ela já está afetando sua vida, seu bolso e o futuro dos seus filhos.
Recebo Flávia Bellaguarda — advogada climática, TEDx Speaker e diretora executiva da LACLIMA — para uma conversa essencial sobre justiça climática, educação ambiental, desigualdade social e os impactos econômicos da emergência climática.
Um episódio para quem ainda acredita que dá tempo de agir.
Ouça aqui | Assista no YouTube
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EP.37 – Democracia em Risco: Fake News, IA e Conspirações Digitais
Estamos preparados para lidar com a manipulação em escala industrial?
Recebo Tomás Chiaverini — jornalista, escritor e criador do podcast Rádio Escafandro — para discutir como as fake news, a inteligência artificial e as redes sociais estão corroendo a confiança pública e ameaçando as bases da democracia.
Um episódio urgente sobre informação, poder e resistência.
Ouça aqui | Assista no YouTube
Até a próxima,
Pedro Cortella.