Escrevo do aeroporto Santos Dumont, ainda sob o efeito de um fim de semana com minha família no Leblon. Um privilégio, sem dúvida — meu pai está morando parcialmente no Rio e ficamos no apartamento dele. Aproveitamos a praia, mesmo sem o calor habitual/infernal tradicional do Rio. Fizemos como fazem bons paulistas que, se estão na praia, curtem até tomar chuva na areia. Mas o que mais me marcou foi que cada minuto ali era atravessado pela imponência do Morro Dois Irmãos.
À noite, quando o Vidigal acende as luzes, quase escuto Marina Lima cantando Virgem. Tenho citado essa música em palestras nos últimos meses – coloco a versão original para tocar na minha apresentação. A letra, escrita pelo irmão dela, o filósofo Antonio Cicero, é uma obra de arte das raras:
“As luzes não precisam de você. Quem disse que eu ia precisar? O farol da ilha só brilha agora por outros olhos e armadilhas. Os inocentes do Leblon não sabem de você…”.
Quantas camadas cabem nesses versos? Cicero falava da irmã, do morro, de um amor? Metáforas que uma IA jamais alcançaria — porque ali há subtexto, biografia, silêncio, tempo. É disso que falo quando tento explicar o que a tecnologia não substitui.
A viagem teve como motivo principal minha participação no Locação Summit, evento do SECOVI-RJ, onde tive a honra de fazer a palestra de abertura. Ali, no auditório do Museu do Amanhã, pude tocar “Virgem” e perceber nos rostos da plateia um entendimento que só nasce quando a metáfora encontra terreno fértil.
E foi nesse mesmo palco que outra citação surgiu. Quando Renato Russo canta “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, ele completa: “porque se você parar pra pensar, na verdade não há”. E eu, ali, parado, pensei. Pela primeira vez, me permiti absorver o peso dessa segunda parte da frase.
Você já parou pra pensar que o amanhã não existe?
Foi no Rio, aos pés dos Dois Irmãos, dentro do Museu do Amanhã, que essa pausa virou inspiração: o amanhã que nomeia o museu é o mesmo que nunca chega. E quando você para pra pensar que as coisas não precisam de você, que o morro continua ali, como continuava quando Dom João VI chegou, como continuava quando os primeiros homo sapiens pisaram esse solo… quando você entende que é só mais uma gota d’água, mais um grão de areia — tudo o que você faz hoje deveria ganhar outro valor.
Porque o presente, o hoje, é o único território onde ainda somos humanos. Deve ser por isso que hoje me apresento como futurista…
NO AR: INTELIGÊNCIA ORGÂNICA
Reflexões sobre tecnologia, saúde mental e as escolhas que ainda nos cabem.
EP.38 – Sociedade Doente: Ansiedade, Pobreza e o Impacto da IA
Vivemos em um tempo marcado por ansiedade, comparações nas redes sociais, pobreza estrutural e um conformismo que adoece em silêncio. Mas será que estamos mesmo nos tornando uma sociedade doente?
Recebo o Dr. Taki Cordaz — Coordenador da Equipe Multidisciplinar do IPq-HCFMUSP e uma das maiores referências em saúde mental do país — para uma conversa dura e necessária sobre inteligência artificial, desigualdade, abandono dos idosos e os limites da resiliência num mundo exausto.
Neste episódio, você vai refletir sobre:
- Como a IA e as redes sociais reforçam a alienação e o conformismo.
- Por que a pobreza é a maior fábrica de doenças mentais.
- O perigo do estoicismo “fast food” e da autoajuda que ensina só a aceitar.
- O abandono dos idosos e a perda de seu papel na sociedade.
- Como crises globais já afetam diretamente a nossa mente.
E, apesar do cenário sombrio, a mensagem final é clara: viver é tomar partido — e pequenos gestos de empatia ainda podem ser revolucionários.
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EP.39 – Da Dor ao Propósito: Como uma Crise Familiar Virou a Missão do SOS Educação com Tais Bento
O que acontece quando um divórcio se transforma em uma jornada de transformação coletiva?
Neste episódio, recebo Tais Bento, fundadora da SOS Educação, para falar sobre como sua trajetória pessoal — marcada por desafios familiares — virou uma missão com impacto nacional. Uma conversa sobre propósito, crise escolar e a construção de pontes entre pais, alunos e professores.
Ao longo do episódio, você vai refletir sobre:
- Como uma crise pessoal pode se transformar em propósito e impacto coletivo.
- O desafio de empreender em família — e o que Tais aprendeu trabalhando com a mãe.
- O conflito entre pais ansiosos, professores esgotados e crianças sobrecarregadas.
- O papel da escola na sociedade e os riscos de ignorar essa crise silenciosa.
Se você acredita que as histórias mais íntimas revelam as raízes dos nossos maiores dilemas sociais, esse episódio é pra você.