Tenho poucas coisas que me orgulho no exercício da paternidade. Me tornei pai há apenas 6 anos, então ainda não deu muito tempo para refletir sobre os efeitos da minha ação sobre um ser humano, gerado por mim, que ainda não se desenvolveu completamente – digo no sentido “Eriksoniano” da coisa.
Erik Erikson foi um psicanalista germano-americano que propôs uma teoria do desenvolvimento humano dividida em oito estágios ao longo da vida. Cada estágio apresenta um conflito central que, se resolvido de forma saudável, fortalece a identidade da pessoa. No caso da infância, por exemplo, o desafio está em desenvolver autonomia e iniciativa. E é com esse olhar mais simbólico e longitudinal que às vezes tento avaliar meu papel: estou favorecendo vínculos, repertórios, autonomia?
Uma das coisas que me orgulho é que consegui despertar na Alice a paixão pelos gibis da Turma da Mônica. Ela ainda não lê, mas ama ficar olhando os quadrinhos. Virou rotina para nós a leitura de historinhas durante o jantar. Esse contato com o trabalho de Mauricio de Sousa, muitos anos depois da minha infância, tem sido um ponto de conexão com ela e comigo mesmo.
Dentro dos gibis da turma, há histórias de outros núcleos. Um deles é a Turma do Penadinho. Que maneira genial de lidar com um assunto que é extremamente difícil de apresentar para qualquer criança. Penadinho vive em um cemitério com os amigos: um crânio falante, um vampiro, uma múmia, um lobisomem e um Frankstein. Mas, nessa turma também existe a Dona Morte, uma funcionária do Além que trabalha indo atrás de pessoas em que a “hora chega”. Seu trabalho, na maioria dos roteiros, é convencê-las de que chegou o momento de desapegar. Muitos, ao vê-la, fogem desesperadamente.
As histórias da Dona Morte nunca focam na tristeza de quem fica. Dessa forma, a ideia de vida após a morte ou do nosso tempo na terra apenas como uma passagem se solidifica na mente de quem lê. No fundo, a Turma do Penadinho oferece um arcabouço cultural não-dogmático extremamente rico. Por mais que seja uma estrutura católica/espírita, Dona Morte não tem nada a ver com religião formal.
As histórias dela também não focam na ligação causa-efeito das ações dos personagens em vida. Nunca vi uma história em que alguém vai pro inferno ou para o céu. As pessoas que morrem, no geral, vão fazer companhia para Penadinho no cemitério – sem julgamento.
Recentemente, duas mortes próximas — diferença de 3 dias entre elas — de vidas muito distintas inundaram nossa atenção. Um influenciador político extremamente popular e um músico genial que nunca chegou ao mainstream.
A polarização nos torna piores e é difícil lutar contra o impulso irracional de qualquer manifestação frente aos fatos.
No fundo ainda é uma escolha: focar no ódio ou na alma.
O velório de um rendeu uma cena que me deixou emocionado. Veja o vídeo. Foi uma celebração! O velório do outro não me emocionou nada – mas deveria ter me emocionado.
A falta de empatia me torna pior. Estou lutando contra.
Curioso pensar que Charlie e Hermeto chegaram ao cemitério do Penadinho com poucos instantes de distância. Longe de qualquer julgamento, num lugar em que nada do que passou importa.
Carl Jung dizia que, ao se aproximar de uma alma humana, seja apenas outra alma humana.
Com certeza ele também deve ter lido Turma da Mônica…
NO AR: INTELIGÊNCIA ORGÂNICA
Reflexões sobre tecnologia, pensamento crítico e o que nos torna humanos.
EP.44 – ICL: Da Educação Online ao Jornalismo Independente | Rafael Donatiello
Como um projeto de aulas ao vivo virou um dos maiores canais de jornalismo independente do país?
Recebo Rafael Donatiello, estrategista digital e cofundador do ICL, para um papo direto sobre educação, mídia, polarização e os dilemas de crescer em meio a bolhas digitais.
Uma conversa sobre propósito, crítica e caminhos possíveis fora do script.
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EP.45 – Estamos Preparados Para Um Futuro Controlado pela Inteligência Artificial? | Simone Kliass
A IA está nos ajudando — ou nos adestrando?
Recebo Simone Kliass, palestrante internacional e embaixadora da Women in Voice, para discutir o papel da tecnologia nas relações humanas, o impacto da realidade estendida e o que ainda nos resta de verdadeiramente empático.
Uma conversa afiada sobre voz, presença e resistência.