“Eu sou assim
Quem quiser gostar de mim, eu sou assim
Meu mundo é hoje
Não existe amanhã pra mim
Eu sou assim
Assim morrerei um dia”
Paulinho da Viola lançou essa música em 1972, com apenas 29 anos. É um clichê dizer que ela continua atual, mas não deixa de ser verdade. A força da mensagem permanece — embora, à primeira vista, as reflexões possam ser mal interpretadas. Quem passa pela letra desavisado talvez veja nela um certo tom rabugento, como se Paulinho tivesse se recusado a mudar.
Mas basta seguir para a próxima estrofe para entender melhor o que ele está dizendo:
“Não levarei arrependimentos
Nem o peso da hipocrisia
Tenho pena daqueles
Que se agacham até o chão
Enganando a si mesmos
Por dinheiro ou posição
Nunca tomei parte desse enorme batalhão
Pois sei que além de flores
Nada mais vai no caixão”
Não se trata de teimosia — é um manifesto. Contra a ganância, contra o individualismo, contra a busca desenfreada por status. É sobre ser fiel aos próprios princípios. E gosto especialmente do trecho “Meu mundo é hoje, não existe amanhã pra mim”, porque ele desmonta a ilusão de que o futuro é garantido. Se vivêssemos com mais presença, mais alinhados com aquilo em que acreditamos, talvez fôssemos menos angustiados com o amanhã.
Curioso como a primeira imagem que nos vem à mente ao ouvir essa música é a do Paulinho de cabelos brancos, sereno, o mesmo do belíssimo documentário que leva o nome da canção. É como se a velhice estivesse automaticamente ligada à resistência à mudança. E, de fato, às vezes está. Alguns vão mesmo se tornando mais ranzinzas com o tempo.
Mas algo me diz que isso também está mudando.
A expectativa de vida aumentou, e é difícil imaginar que minha geração — a geração Y — vai passar os próximos 50, 60, 70 anos resistindo a tudo que é novo. Quem fizer isso, vai sofrer. Tenho participado de vários eventos que deixam claro que, se há um conceito que precisa ser urgentemente repensado na nossa sociedade, é o do etarismo.
Shows, congressos, baladas, viagens e programas educacionais voltados para o público 40+ são uma realidade cada vez mais lucrativa — e só vão crescer. Em um episódio recente do Inteligência Orgânica, a Andrea Tenuta, head de novos negócios da Maturi, disse uma frase que tenho repetido por aí porque, sinceramente, acho que muda a mentalidade de quem escuta:
“A cada 21 segundos nasce uma pessoa 50+ no Brasil.”
Essas pessoas vão trabalhar até os 75, 80 anos? É provável. E todo mundo já sabe que, da forma como está, a aposentadoria não vai ser suficiente para sustentá-las. Estamos falando de três décadas de contribuição produtiva para o mercado. E ainda assim, a maioria das empresas continua ignorando essa potência. Por quê?
E quem é da área já entendeu:
com o letramento digital certo — especialmente em IA — esse público rende mais do que muito novinho por aí.
A arte sempre aponta o caminho. Às vezes com samba, às vezes com silêncio — mas sempre com verdade.
NO AR: INTELIGÊNCIA ORGÂNICA
Reflexões sobre tecnologia, pensamento crítico e o que nos torna humanos.
EP.46 – O Mundo é um Abismo? | Rossandro Klinjey
Vivemos um hiato entre mundos: o antigo já não funciona, o novo ainda não chegou.
Recebo Rossandro Klinjey para uma conversa profunda sobre angústia histórica, inteligência artificial, crise geracional e a esperança de um novo tempo. Um episódio sobre fé no futuro — sem ingenuidade.
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EP.47 – O Futuro é Orgânico? | Beto Lago
IA, psicodélicos, cannabis e cultura: onde ainda somos verdadeiramente humanos?
Recebo Beto Lago para discutir a gentrificação da inteligência, o poder das plantas, a ciência da consciência e o retorno às raízes. Um papo provocador que convida à resistência criativa.
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Convite especial: Se a conversa sobre inteligência orgânica, criatividade e o poder da ciência das plantas despertou sua curiosidade, conheça o Festival Híbrido 2025 — dois dias de imersão em São Paulo, nos dias 11 e 12 de outubro, no Komplexo Tempo. O evento une cannabis medicinal, psicodélicos, ciência, cultura e sustentabilidade — com show da banda IRA! no domingo. Mais informações: festivalhibridosp.com.br