Os caminhos que atravessam poesia, psicanálise e o que quer que seja que estou fazendo no último ano me levaram a um palco chamado alma — o Alma Talks. Pela lei natural dos encontros, Allan Dias Castro, eu e Maria Homem — nessa ordem — apresentamos nossas ideias para um público incrível no Teatro das Artes, em São Paulo. Se você estava lá naquela noite, meu muito obrigado pelo carinho e receptividade. A plateia era formada integralmente por fãs de Maria e Allan, o que me deixou bastante nervoso. Antes de começar o evento, fomos convidados ao palco, pois algumas pessoas tinham livros e queriam autógrafos.
Nessa hora me deu vontade de cavar um buraco e enterrar minha cabeça no chão. Desesperado, porém, com cara de paisagem, fiquei ali ao lado dos dois — estes sim, autores de diversas obras. Avulso por longos minutos, busquei refúgio no celular — a muleta para onde nossa vista se volta quando parece que todos os olhares nos julgam.
A vergonha tem dois motivos: o primeiro é ser um “palestrante” sem livro publicado. O segundo é a dificuldade que estou tendo no processo de escrever meu primeiro livro. Esse maldito livro foi minha promessa de ano novo em 2023. Nada aconteceu. A mesma meta foi traçada na virada para 2024. De novo, nada. Em alguma onda que pulei no réveillon de 2025, o livro também foi mencionado. Pois bem, foi só agora, no final de 2025, estimulado por Rodrigo Skeller — escritor e dono de uma editora em Porto Alegre — que finalmente consegui começar.
O prólogo nasceu lindamente, o primeiro capítulo fluiu como água de cachoeira após um dilúvio. Empolgado com a sensação de “agora vai”, segui com a crença de que ali estava surgindo um grande best-seller. Mas no meio do segundo capítulo já me senti menos brilhante. A criatividade que jorrava nas primeiras páginas foi se esvaindo rapidamente. O esforço para conectar as ideias do terceiro capítulo me fez repensar se sou efetivamente alfabetizado.
A partir da minha experiência com inteligência artificial, percebi que o bloqueio não é apenas criativo — é moral e ético. Não existe mais espaço para páginas em branco na minha produção literária. Esse não é o problema. A questão é que não existe versão do GPT que cure a síndrome do impostor. Minha versão repórter não passa na régua da minha versão editor. Me faltam referências, me falta rigor acadêmico, me faltam leitura e pesquisa…
E pra piorar, meu ego inimigo me impede de buscar um ghostwriter ou uma IA writer, sei lá. Quero que a IA potencialize meu texto, mas ao deixá-la me editar e me referenciar demais, percebo que o que há de mim nele se esvai. Paradoxal? Sim. Paralisante? Com certeza.
Abri minha fala naquela noite citando o grande Marcelo Yuca A minha alma tá armada e apontada para a cara do sossego. Pois paz sem voz não é paz, é medo.
Puxa vida, como admiro/invejo a coragem dos artistas. Esses sim vivem uma conexão plena com a Alma…
Ps: Muito obrigado a Eduardo Matos e toda equipe pelo convite e organização impecável. Vida longa ao excelente Alma Talks!
NO AR: INTELIGÊNCIA ORGÂNICA
Reflexões sobre tecnologia, pensamento crítico e o que nos torna humanos.
EP.58 – Educação Refém do Medo: O Colapso Silencioso que Ninguém Quer Admitir
Uma conversa brutalmente honesta com Ana Célia Campos, fundadora das escolas Builders e Gara School, sobre o medo que paralisa pais, professores e crianças — e por que a educação precisa de uma revolução agora.
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EP.59 – José Kobori: O Professor de Finanças Que a Faria Lima Não Quer Que Você Ouça
Um mergulho raro e provocador no mundo financeiro com José Kobori, ex-professor do IBMEC, que fala sobre ética, IA, capitalismo e a experiência de ter passado 80 dias preso injustamente. Uma conversa sobre lucidez, propósito e resistência intelectual.
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Até a próxima, Pedro Cortella.

