Um mês sem telas. Esse é o desafio que me propus a cumprir a partir de 15 de dezembro de 2025. Escrevo essas linhas ainda em dúvida se eu — ou qualquer pessoa — é realmente capaz de levar algo assim adiante hoje em dia.
Semana passada terminei o livro Minimalismo Digital, escrito por Cal Newport em 2017. Foi reconfortante perceber que o desgaste que o mundo digital me causou nos últimos anos já é objeto de estudo há bastante tempo. Ainda assim, toda essa literatura não foi suficiente para impedir que a dependência dos smartphones se agravasse brutalmente na nossa sociedade.
No livro, por exemplo, Newport relata com certo espanto a existência de pessoas que passavam cerca de três horas por dia nas redes sociais — na época, principalmente Twitter e Facebook. Hoje, sabemos que a média de uso no Brasil já ultrapassa cinco horas diárias, distribuídas entre as mais diversas redes “tiktokizadas”, que pulverizam nossa atenção. Por “tiktokizadas”, entenda a adaptação que praticamente todas as plataformas fizeram em seus algoritmos para priorizar retenção no formato mais eficiente para isso: os vídeos curtos.

A desconexão total por um período determinado é o caminho proposto por Cal para quem deseja se tornar um minimalista digital. A ideia é que, após esse detox, você volte a usar a tecnologia com mais critério, conseguindo distinguir melhor o que de fato faz falta no dia a dia daquilo sem o qual é perfeitamente possível viver.
Apagar as redes sociais do meu celular na virada do ano passado foi um grande acerto. Reduzi meu tempo de tela, mas não o suficiente. O tempo economizado no celular foi quase integralmente substituído por outra tela: a do computador.
Claro, como todo viciado funcional, encontrei substitutos. Me privar do Instagram me levou a passar mais tempo no LinkedIn ou no YouTube, ocupando justamente o período em que estou “trabalhando”.
Agora, neste fim de 2025, decidi dobrar a meta. Zero telas — zero mesmo — só para ver o que acontece. Não quero TV, não quero filme, não quero série. Não quero vídeo nem longo, nem curto. Quero descobrir quanto tempo consigo ficar sem nenhum tipo de entretenimento audiovisual.
Praticamente impossível, certo? Para sair do meu apartamento, entro em um elevador que já exibe uma tela enorme com avisos e publicidade. Chego à garagem, entro no carro, e o painel é outra tela, com o Waze piscando notificações.
Para dificultar ainda mais, estou em plena divulgação da Formação em Gestão de IA que darei na ESPM em janeiro. E, como cereja do bolo, prometi finalizar meu primeiro livro e entregá-lo ao editor até o fim do mês.
Existem várias ações e procedimentos que estou colocando em prática para tentar fazer isso dar certo. Conto com o apoio da minha família e da minha equipe. O fato é que, dando certo ou dando errado, volto para relatar tudo aqui nesta newsletter em 2026.
O mais curioso de tudo é que eu não faço ideia de quem serei em 15 de janeiro. Não me lembro de um único dia da minha vida em que tenha passado completamente sem telas. Agora, vou lembrar. Nos vemos em janeiro.
NO AR: INTELIGÊNCIA ORGÂNICA
Reflexões sobre tecnologia, pensamento crítico e o que nos torna humanos.
EP.69 – Medicina do Futuro, Blue Zones e Otimismo Humano na Era da IA | Renata Cortella
O que acontece quando uma médica decide abandonar a lógica de “evitar a morte” para se dedicar a algo mais radical: promover a vida? Recebo a Dra. Renata Cortella, especialista em Medicina do Estilo de Vida e Medicina Preventiva, para uma conversa profundamente humana sobre escolhas conscientes, longevidade e o futuro da relação médico-paciente em um mundo mediado por Inteligência Artificial. Falamos sobre depressão, luto, Blue Zones, alimentação baseada em vegetais sem militância, pseudociência que vira ciência com o tempo e por que a IA pode ser excelente em diagnósticos — mas incapaz de substituir sensibilidade, intuição e escuta. Uma conversa sobre saúde, tecnologia e a coragem de viver com mais intenção.
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EP.68 – Utopia Reversa, Soft Power e a Vida Autêntica na Era da IA | Professor Sidney Leite
Por que nossa sociedade parece incapaz de imaginar futuros desejáveis e insiste em resgatar passados idealizados? Recebo o Professor Sidney Leite, historiador e doutor em Relações Internacionais, para uma aula provocadora sobre geopolítica, cinema, filosofia e crise de sentido. Falamos sobre o conceito de “utopia reversa”, o uso histórico de Hollywood como máquina de soft power, o colapso do ideal de progresso no pós-guerra, a diferença entre viver no tático e pensar estrategicamente e os riscos de uma hegemonia tecnológica cada vez mais totalizante. Uma conversa densa, incômoda e necessária sobre autenticidade, poder e o preço de viver apenas no urgente.
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FORMAÇÃO EM GESTÃO DE IA NA ESPM
No dia 22 de janeiro de 2026, começa uma formação que construí com a ESPM: a Formação em Gestão de Inteligência Artificial. Não é um curso para aprender prompts, mas para preparar profissionais capazes de integrar tecnologia, estratégia e discernimento humano em um mercado que ainda não sabe aplicar IA de forma madura. Vamos discutir limites, riscos, aplicações reais e, principalmente, o que deve continuar sendo humano nesse novo cenário. As aulas acontecem entre janeiro e março, no formato híbrido, e são uma oportunidade para quem quer desenvolver visão crítica e capacidade prática de conduzir projetos de IA com segurança e clareza. Se esse tema ressoa com você, vale olhar com atenção.
Até a próxima, Pedro Cortella.
